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9.11.2017

 CAPÍTULO IV

O Berço da Heresia

As lendas relacionadas a Madalena ultrapassam as fronteiras da Provença, embora apenas lá se possam encontrar os locais associados com a sua passagem pela França. Histó­rias sobre ela afloram em abundância por todo o sul, concentrando-se partic­ularmente nas proximidades do sudeste dos Pireneus e em Ariege. E dizem que foi para esses lugares que ela trouxe o Santo Graal. Como já era de se esperar, essas terras também são morada de um grande número de Madonas Negras, em particular nos Pireneus orientais.
Seguindo em direção oeste, tendo Marselha atrás de nós, chegamos à região de Languedoc-Roussillon, que já foi a região mais rica da França e hoje é uma das mais pobres. Nessa região despovoada, os pensamentos de cada pessoa parecem ecoar sobre a terra, reverberando cada vez mais, pouco a pouco, milha após milha, a despeito do número crescente de turistas que vêm sorver sua história encharcada de sangue; e, claro, o vinho local também. E embora nós, como bons europeus, fizéssemos nossa própria contribuição à economia local, estávamos lá, em primeiro lugar, para examinar o passado.
Em todos os lugares podem-se ver as evidências da turbulenta história vivida pela região. Castelos arruinados e antigas fortalezas, postos abaixo por ordens de reis e papas, sujam a paisagem e nos falam de brutalidades que ultrapassam até mesmo a propensão medieval comum de governar por meio da atrocidade. Pois se existe um lugar na Europa que possa ser lembrado como o lar da heresia, esse é Languedoc-Roussillon. E foi esse único fato histórico o responsável pelo empobrecimento sistemático da região. Não le­vando em consideração regiões como a Bósnia e a Irlanda do Norte, rara­mente a religião deixou marcas tão profundas sobre a prosperidade de um país, de um modo tão explícito, como o fez nessa região.
Antigamente só o Languedoc (de Langue d'Oc, o idioma local) se es­tendia da Provença à região entre Toulouse e os Pireneus orientais. Até o século XIII, não fazia exatamente parte da França, sendo governado pelo con­dado de Toulouse que, embora nominalmente devesse submissão aos reis da França, na prática era, na verdade, mais rico e poderoso.
Nos séculos XI e XII essa região causava inveja a toda a Europa, por sua civilização e cultura. Sua arte, literatura e ciência eram, sem sombra de dúvi­da, as mais avançadas da época; no século XIII, porém, essa cultura res­plandecente foi cortada ao meio pela invasão dos povos bárbaros do norte, causando um ressentimento que persiste até hoje em dia. Muitos dos habi­tantes ainda preferem chamar a região de Occitania, seu nome anterior. Essa região, como iríamos descobrir, é dona de uma memória particularmente longa.
O antigo Languedoc sempre foi um berço para idéias heréticas e não-­ortodoxas, provavelmente porque uma cultura que encoraje a busca de co­nhecimento tenda a tolerar pensamentos novos e radicais.
Uma das principais figuras desse ambiente eram os trovadores, esses menestréis andarilhos cujas canções de amor eram, em essência, hinos de­dicados ao Princípio Feminino. Essa tradição, voltada para o amor elegante, era centrada na idealização das mulheres e, dentre as mulheres, a mulher ideal, a Deusa. Eles podem ter sido românticos, mas as canções dos trova­dores também transmitiam um real erotismo. A influência do movimento, porém, estendeu-se para além do Languedoc, e em particular, com grande êxito, na Alemanha e nos Países Baixos, onde os trovadores eram conhecidos como minnesingers, literalmente, 'os cantores de senhoras', embora aqui a palavra tenha o significado de mulher idealizada ou arquetípica.
O Languedoc assistiu ao primeiro ato de genocídio cometido pelos europeus, quando 100.000 membros da heresia dos cátaros foram massacra­dos por ordem do Papa, durante a cruzada contra os albigenses (em razão da cidade de Albi, uma fortaleza cátara). A Santa Inquisição foi originalmente criada para, especificamente, interrogar e exterminar os cátaros. Talvez seja apenas pelo fato da cruzada dos albigenses ter ocorrido em uma época tão remota quanto o século XIII que esse massacre nunca tenha tido o mesmo impacto histórico de holocaustos mais contemporâneos. Porém, muitos dos habitantes locais ainda sentem o sangue ferver à simples menção desse as­sunto, e alguns até sugerem que houve uma operação oficial de cobertura ao longo dos séculos, uma verdadeira conspiração para impedir que a história dos cátaros fosse mais amplamente conhecida.
Além dos cátaros, essa região era, e sempre foi, um reduto da alquimia, e várias aldeias atestam o interesse pela alquimia de seus antigos moradores, notadamente Alet-les-Bains, perto de Limoux, onde as casas ainda são enfei­tadas com simbolismo esotérico.Foi também em Toulouse e Carcassonne que surgiram as primeiras acusações conhecidas contra as assim chamadas Brux­as do Sabbath, entre 1330 e 1340. Em 1335, sessenta e três pessoas foram acusadas de feitiçaria em Toulouse e suas confissões obtidas através dos mé­todos usuais que garantiam que qualquer um confessasse. A chefe era uma jovem mulher chamada Anne-Marie de Georgel, que parecia falar em nome de todas ao descrever suas crenças. Afirmou que viam o mundo como um campo de batalha entre dois deuses, o Deus do Céu e o Deus deste Mundo. Ela e as outras apoiavam este último porque acreditavam que ele seria o vence­dor. Tal coisa pode ter significado 'feitiçaria' para os juizes eclesiásticos, mas era na verdade gnosticismo, pura e simplesmente. Outra mulher, acusada de crime semelhante, testemunhou ter assistido ao 'Sabbath' a fim de 'servir os cátaros ao jantar'. Muitos elementos pagãos sobrevivem nessa região, podendo ser encontrados nos lugares mais surpreendentes. Pois, embora as esculturas do 'Homem Verde', o deus da vegetação que era venerado na maior parte das regiões rurais da Europa, possam, por outro lado, ser vistas em muitas igrejas cristãs, como a Catedral de Norwich, ele normalmente não é descrito como sendo descendente de uma deidade do Antigo Testamento. Como A.T. Mann e Jane Lyle escrevem:

Na catedral de St-Bertrand-de-Comminges, nos Pireneus, Lilith encontrou um jeito de entrar em uma igreja: uma escultura que retrata uma mulher alada, com pés de pássaro, que dá à luz uma figura dionisíaca, um Homem Verde.

A mesma cidadezinha afirma ser o local da tumba de ninguém mais, nin­guém menos que Herodes Antipas, o governador da Palestina, que mandou executar João Batista. De acordo com o cronista hebreu do século I, Josephus, o frágil triunvirato composto por Herodes, sua esposa, a intrigante Herodíada e a enteada Salomé, que é conhecida pela 'Dança dos Sete Véus', estavam todos exilados na cidade romana de Lugdunum Convenarum, em Gaul, no que hoje é St-Bertrand-de-Conuninges. Herodes desapareceu sem deixar rastro, mas Salomé morreu em um córrego nas montanhas, e Herodíada transformou-se em lenda local, tornando-se líder de um grupo de 'feiticeiras'.
Outra lenda pitoresca de Languedoc se refere à 'Rainha do Sul' (Reine du Midi), um título das condessas de Toulouse. No folclore, a protetora de Toulouse é La Reine Pedauque (a Rainha Ganso). Isso pode ser uma referên­cia, na cifrada e esotérica 'linguagem dos pássaros', para o Pays d'Oc, mas os pesquisadores franceses identificaram essa figura com a deusa síria Anath, que por sua vez está intimamente ligada a Ísis. E também há a associação óbvia com Lilith.
Um outro personagem legendário da região é Meridiana. Seu nome parece ligá-la ao meio-dia e ao sul (ambos midi em francês). Sua aparição mais famosa aconteceu quando Gerbert d'Aurillac (940-1003), que mais tarde tornar-se-ia o Papa Silvestre II, rumou para a Espanha a fim de aprender os segredos da alquimia. Silvestre, que tinha como oráculo uma cabeça falante, recebeu sua sabedoria desta Meridiana, que lhe ofereceu 'seu corpo, riquezas e a sabedoria da magia', com certeza algum tipo de conhecimento alquími­co e esotérico transmitido através de rituais de iniciação sexual.A escritora e pesquisadora americana Barbara G.Walker deriva o nome Meridiana de 'Maria­-Diana', unindo assim essa complexa deusa pagã com a lendária Madalena do Sul da França.
Foi também o Languedoc que abrigou, sem dúvida nenhuma, a maior concentração de cavaleiros templários na Europa, até que fossem suprimi­dos, no início do século XIV. A região é toda pontilhada com as evocativas ruínas dos castelos e edificações militares da ordem.
Se, como suspeitamos, existiram muitas outras ramificações do culto 'herético' de Maria Madalena, além das que encontramos na Provença, então, com certeza, o Languedoc seria o lugar para encontrá-las. Uma das maiores cidades por onde passaríamos, ao viajar pela auto-estrada de Marselha, viu o despertar de incontroláveis paixões em nome dela; e milhares de pessoas haviam sido, de modo horrível, levadas à morte em virtude do significado que ela tinha para eles.
A cidade de Béziers, hoje pertence à província de Hérault, no Langue­doc-Roussillon é uma cidade populosa a cerca de dez quilômetros do Golfo dos Leões, no Mediterrâneo. Em 1209, porém, todos os habitantes da ci­dade, até o último deles, foram caçados e mortos impiedosamente pelos cruzados da albigense. Mesmo para uma cruzada marcada pela quantidade de sangue derramado, essa passagem é uma história particularmente bizarra.
Essa história já foi relatada por vários comentadores contemporâneos, mas aqui nos limitaremos ao relato de Pierre des Vaux-de-Cemat, um monge de Cister (Ordem austera baseada nas regras beneditinas, fundada em 1098, na cidade de Cister, França), escrito em 1213. Ele não esteve presente aos eventos, mas ba­seou seu relato nos dos cruzados que lá estiveram.
Béziers tornou-se algo como um reduto para hereges, razão da existên­cia, à época do ataque dos cruzados, de um enclave de 222 cátaros, que lá viviam sem serem molestados pela população. Embora não se saiba ao certo se o Conde de Béziers seria ele mesmo um cátaro ou apenas um simpati­zante, o certo é que ele nada fez para persegui-los ou suprimi-los, e isso era o que, em particular, enfurecia os cruzados.
Eles ordenaram que os citadinos, os católicos comuns, ou entregassem os cátaros ou deixassem a cidade, para que pudessem lidar com os cátaros com mais facilidade. Apesar dessa exigência ter sido feita sob pena de ex­comunhão - uma questão de extrema importância para uma época em que o inferno era uma realidade concreta - e a alternativa oferecida parecesse bastante generosa, pois representava uma chance de escapar ao iminente massacre, uma coisa surpreendente aconteceu. Os citadinos se recusaram a obedecer a qualquer exigência. Como escreveu des Vaux-de-Cemat, eles preferiram 'morrer como hereges em vez de viverem como cristãos'. E de acordo com o relatório enviado ao Papa por aqueles que o representavam, os citadinos juraram defender os hereges.
Sendo assim, em julho de 1209, os cruzados marcharam em direção a Béziers e, sem qualquer dificuldade, tomaram a cidade, matando todos os que lá estavam, homens, mulheres, crianças e padres, e então atearam fogo ao local. Entre 15.000 e 20.000 pessoas foram mortas: destas, apenas 200 eram heréticas. 'Nada poderia salvá-los, nem a cruz, nem o altar, nem o crucifixo'. Quando os cruzados perguntaram aos delegados do Papa como eles separar­iam os hereges do resto do povo da cidade, receberam a hoje notória respos­ta: 'Mate-os todos. Deus saberá separá-los' .
Embora seja fácil pensar que os habitantes tenham querido defender sua cidade contra as depredações habituais dos exércitos, chamamos a aten­ção para o fato de que havia sido oferecida a eles a oportunidade de partirem e se, a manutenção intacta de suas propriedades fosse algo de suprema importância para eles, poderiam simplesmente entregar os hereges aos cruza­dos e voltar para o cotidiano de suas vidas sem sequer olhar para trás. Porém, escolheram ficar na cidade, assinando assim a sentença de morte de todos, e reafirmaram-na ao jurarem lutar em defesa dos cátaros. Mas o que realmente estava acontecendo em Béziers?
Primeiro, deve-se levar em conta a data precisa do massacre. Era 22 de julho, o dia dedicado a Maria Madalena, algo apontado por vários escritores contemporâneos como tendo um significado singular. E foi na igreja de Maria Madalena em Béziers que, quarenta anos antes, o senhor local, Raymond Trencavel I, foi morto, embora não se saiba exatamente o porquê. Em Béziers pelo menos, a ligação entre Madalena e a heresia não era meramente acidental, e isso nos dá uma visão mais aguçada sobre o pano de fundo da cruzada dos albigenses.
Como escreveu Pierre des Vaux-de-Cernat:

Béziers foi ocupada no Dia de Santa Maria Madalena. Oh!, justiça suprema da Providência!... Os hereges afirmavam que Santa Maria Madalena era concubina de Jesus Cristo... foi então uma causa justa esses cães asquerosos terem sido massacrados no dia das festividades daquela que haviam insultado...

Talvez para os bondosos monges e para os cruzados essa idéia possa ter sido um tanto chocante, mas, obviamente, não o era para a grande maioria do povo da cidade, que tinha escolhido apoiar os hereges até a morte. Está claro que essa crença era uma tradição local extremamente poderosa nos corações e mentes daquelas pessoas. Como já vimos, os Evangelhos Gnósticos e outros textos antigos não hesitam em descrever a relação entre Maria Ma­dalena e Jesus como sendo aberta e publicamente sexual. Mas como será que essa idéia chegou aos ouvidos desses moradores urbanos da França medie­val? Os Evangelhos Gnósticos ainda não haviam sido descobertos (e mesmo que já o tivessem é improvável já terem sido disseminados entre eles). Assim, de onde será que veio essa tradição?
A cruzada foi apenas o tiro de partida da guerra contra os albigenses, como um todo, que iria saquear o Languedoc durante mais de quarenta anos, causando cicatrizes tão profundas na psique coletiva das pessoas que não há nada de estranho em afirmar que perduram até hoje. Então, quem eram esses cátaros, cujas crenças foram a causa de uma cruzada especialmente montada para lutar contra eles? O que possuíam que fosse capaz de provocar tanto terror ao Sistema a ponto de ter-se criado a Santa Inquisição especificamente para ser uma arma mortal apontada para eles?
Ninguém pode, com alguma segurança, estabelecer a gênese da fé dos cátaros, mas eles rapidamente tornaram-se um poder a ser levado em conta no Languedoc do século XI. Para os languedocianos, os cátaros não eram tratados com o desdém ou o ridículo com que nossa própria cultura tende a considerar os cultos religiosos minoritários; ao contrário, eram a religião dom­inante da região e, localmente, a tratavam com extremo respeito. As famílias nobres da região ou eram reconhecidamente cátaras ou então simpatizantes destes, dando-lhes um apoio efetivo. O catarismo era, virtualmente, a religião oficial do Languedoc.
Conhecidos como Les Bonhommes ou Les Bons Chrétiens, homens bons ou os bons cristãos, os cátaros aparentemente não ofendiam ninguém. Comentadores contemporâneos, especialmente aqueles que têm uma visão da "nova era" , afirmam que os cátaros representavam um movimento autênti­co com o intuito de voltar aos fundamentos do cristianismo. Embora, como veremos, tivessem absorvido muitas outras idéias e tivessem uma ideologia própria um tanto confusa, é verdade que seu modo de vida era uma tentativa de obedecer aos ensinamentos de Jesus. Acusavam a Igreja Católica de ter se desviado muito do conceito original do cristianismo. Consideravam como anátema a riqueza e a pompa da Igreja, que viam como o oposto do que Jesus havia pregado a seus seguidores.Vistos de modo superficial, poderiam parec­er os precursores do movimento protestante, mas, apesar de certas semel­hanças, não era esse o caso.
Os cátaros levavam vidas muito simples. Preferiam passar o tempo ao ar livre ou em casas simples do que em igrejas, e embora tivessem uma hier­arquia administrativa que incluía bispos, todos os membros batizados eram espiritualmente iguais e considerados padres. Para aquela época o mais sur­preendente talvez fosse a ênfase que davam à igualdade entre os sexos, em­bora a culta região do Languedoc já possuísse uma atitude mais iluminada em relação às mulheres do que era habitual. Eram vegetarianos que comiam peixes (por razões ligeiramente relacionadas à saúde, como discutiremos mais tarde), eram pacifistas e acreditavam em uma forma de reencarnação. Eram também pregadores itinerantes, viajando em pares, vivendo com simplici­dade e em extrema pobreza, parando onde quer que fosse para ajudar e curar os que pudessem. De qualquer ponto de vista, os Homens Bons não pareciam representar ameaça alguma para quem quer que fosse. No entanto, a Igreja encontrou razões suficientes para persegui-los.
A Igreja e os cátaros eram visceralmente antagônicos no que dizia res­peito ao simbolismo da cruz, pois estes viam na cruz uma lembrança horrível e doentia do instrumento de tortura que levou Jesus à morte. Tinham tam­bém um ódio mortal ao culto aos mortos e ao comércio de relíquias que dele decorria, e que constituía um dos principais meios utilizados naquela época para alimentar os cofres de Roma. Mas a principal razão dos cátaros terem caído em desgraça perante a Igreja foi a sua recusa em reconhecer a autori­dade do Papa.
Ao longo do século XII, vários conselhos da Igreja condenaram os cátaros, mas finalmente, em 1179, eles e seus protetores foram 'excomun­gados'. Até então a Igreja havia enviado os missionários adequados, ora­dores talentosos daquela época, a fim de tentar trazer os languedocianos de volta à 'fé verdadeira', mas tais missões foram recebidas com apatia. Até mesmo o grande São Bernardo de Clairvaux (1090-1153) foi enviado àquela região apenas para voltar exasperado. Porém, o que é bastante significativo, no relatório que enviou ao Papa, tomou o cuidado de explicar que embora os cátaros, no que concerne à doutrina, caíssem em erro, se fosse 'examina­do o seu modo de vida, não se acharia nada mais impecável'. Essa constata­ção tornou-se senso comum entre todos os cruzados, até o ponto de mesmo os inimigos dos cátaros 'terem que admitir que o estilo de vida deles era exemplar' .
A estratégia seguinte da Igreja foi tentar bater os hereges em seu pró­prio campo, enviando para a região sua própria versão de pregadores itine­rantes. Entre os primeiros, em 1205, estava o famoso Dominic Guzman, um monge espanhol que para lá fora enviado com a missão de fundar a Ordem dos Frades Oradores (mais tarde chamada de Ordem de São Domingos, cujos membros, tempos depois, seriam encarregados dos tribunais da Santa In­quisição).
A partir de então, os dois lados viram-se jogados em uma série de dis­putas abertas, um tipo de debate em público terrivelmente sério, que nada solucionou. Finalmente, em 1207, o Papa Inocêncio III perdeu a paciência e excomungou o Conde de Toulouse, Raymond VI, por não ter entrado em ação contra os hereges. Esse passo era obviamente impopular, pois o próprio del­egado papal encarregado de transmitir ao conde essas notícias foi morto por um dos cavaleiros de Raymond. Essa foi a gota d'água: o Papa convocou uma cruzada de todos contra os cátaros e os que os apoiavam ou com eles simpa­tizavam. A cruzada se reuniu em 24 de junho de 1209, dia comemorativo de São João Batista.
Até então, todas as cruzadas haviam sido convocadas para lutar con­tra os muçulmanos, contra os 'bárbaros estrangeiros' que viviam em terras tão distantes a ponto de serem, literalmente, inimagináveis. Mas essa cruza­da seria uma guerra de cristãos contra cristãos, quase que às portas do palá­cio do próprio Papa. Havia, portanto, toda a probabilidade dos cruzados conhecerem pessoalmente alguns dos hereges que eles haviam jurado exterminar.
A cruzada dos albigenses, que começou em Béziers, em 1209, prosse­guiu com extrema brutalidade, enquanto cidade após cidade caía ante os soldados, que estavam sob as ordens de Simon de Montfort. A campanha du­rou até 1244, um período bastante considerável, durante o qual os cruzados realizaram tudo o que se possa imaginar de pior. Ainda hoje há lugares no Languedoc onde o nome de Simon de Montfort evoca um sentimento misto de medo e abominação.
Na ocasião, as razões religiosas tornadas públicas para justificar a cam­panha logo foram acompanhadas pelos motivos políticos mais cínicos.  A maioria dos cruzados veio do norte da França: a riqueza e poder do Langue­doc era atraente demais para ser ignorada. No começo da cruzada essa região desfrutava de considerável independência; no final fazia, definitivamente, parte da França.
Esse episódio da história européia foi, sob quaisquer padrões, de signi­ficado extremo. Não só fora o primeiro genocídio europeu, como também um movimento crucial para a unificação da França, e deu o motivo necessário para a criação da Santa Inquisição. Para nós, entretanto, há muito mais nessa cruzada dos albigenses do que uma campanha plena de atrocidades que, cu­riosamente, foi relegada ao esquecimento.
Os cátaros eram pacifistas que desprezavam 'o imundo invólucro da carne' a ponto de estarem ansiosos por esvaziá-lo, mesmo que os meios necessários para tal significassem o martírio de ser queimado vivo. Durante a campanha, muitos milhares de cátaros terminaram seus dias na fogueira, e muitos sequer deixaram transparecer o mais leve horror ou medo em face disso. Alguns, aparentemente, chegaram ainda mais longe e não demonstra­ram sentir dor alguma. Tal feito foi particularmente notável no cerco final ao último refúgio dos cátaros, em Montségur.
Uma parada essencial para os turistas contemporâneos, Montségur tor­nou-se um lugar um tanto mítico, bastante similar ao rochedo de Glaston­bury. Mas embora aqueles que estão fora de forma possam achar que este último representa uma subida íngreme e difícil demais, não é nada quando comparado com a estrada que leva ao topo do 'château' de Montségur: uma fortaleza de pedra, encravada quase que de uma maneira impossível nas altu­ras vertiginosas de uma montanha escarpada, toscamente parecida com um pão de açúcar, contemplando do alto o povoado e um vale tornado perigoso devido às constantes quedas de pedras dos precipícios. Sinais em vários idio­mas advertem contra rompantes no sentido de escalar o 'château' até mesmo por aqueles que estão, sem sombra de dúvida, no auge de suas forças e forma física: mesmo os andarilhos mais contumazes acham essa trilha particular­mente dura. É difícil imaginar como os cátaros e seus suprimentos chegavam até o topo. Uma vez lá, porém, era relativamente fácil imaginá-los tranqüila­mente sentados, pois para os cruzados, com suas armaduras e cavalos, nem sequer valia a pena tentar a escalada.
Montségur havia se tornado o quartel-general dos cátaros remanes­centes, no início dos 1240, quando os cruzados os haviam forçado a recuar até os contrafortes dos Pireneus. Um lar para cerca de 300 cátaros, e em particular para os líderes principais, Montségur era um prêmio reluzente para os homens do Papa. A Rainha da França, Blanche de Castilha, reforçou a im­portância dada a Montségur quando, ao relatar sobre sua captura, escreveu: ‘ [devemos] cortar fora a cabeça do dragão'.
Durante os dez meses de cerco a Montségur, um fenômeno curioso aconteceu. Vários dos soldados sitiantes desertaram e juntaram-se aos cátaros apesar de saberem exatamente como tudo aquilo terminaria, inclu­sive para eles. O que poderia ter causado tão absurda defecção? Alguns sugeriram que eles ficaram impressionados com o comportamento exem­plar dos cátaros e assim foram tomados por uma conversão interna e pro­funda.
Como já vimos, os cátaros viam a morte certa, através de tortura, não só com estoicismo, mas com total tranqüilidade, mesmo quando, dizem, as chamas começavam a dançar em volta deles. Para os que podem se lembrar dos anos 70, vem imediatamente à mente a imagem assombrosa daquele solitário monge budista que se imolou em protesto contra a Guerra do Vietnã. E permaneceu sentado e ereto, em um transe desenvolvido após longo trei­namento e inimaginável disciplina, enquanto o fogo o matava. Os cátaros estavam conscientemente preparados para a morte, tendo feito até mesmo um juramento que especificamente prometia a submissão de todos à própria fé em face de quaisquer tipos de tortura. Teriam eles também o conhecimen­to de uma técnica de transe semelhante, que lhes permitisse superar a agonia mais extrema? Com certeza, esse seria um segredo que todos os soldados de qualquer época gostariam de conhecer.
Seja como for, a queda de Montségur deu vida a muitos mistérios dura­douros que foram fonte de fascinação para muitas gerações, inclusive para os nazistas caçadores de tesouro, e para aqueles que estavam em busca do Santo Graal. O mistério mais persistente de todos está relacionado com o chamado
Tesouro dos Cátaros, que quatro deles supostamente teriam conseguido car­regar na noite anterior ao massacre final. Esses intrépidos hereges teriam de alguma forma conseguido escapar, sendo descidos por cordas, no meio da noite, pelo lado particularmente escarpado da montanha.
Embora formalmente os cátaros tenham se rendido no dia 2 de março de 1244, foi-lhes dada permissão para permanecer na fortaleza durante mais quinze dias, por razões que nunca foram bem explicadas; depois de tal período eles se dirigiram por vontade própria para a fogueira. Alguns relatos os descrevem como tendo de fato corrido montanha abaixo e pulado para dentro das fogue­iras que os esperavam na planície. Especulou-se que eles haviam pedido esse tempo extra para executar algum tipo de ritual, mas ninguém jamais saberá realmente a verdade sobre isso.
A natureza exata do tesouro dos cátaros é assunto de intensa especu­lação. Julgando pela rota perigosa percorrida pelos quatro fugitivos, prova­velmente não poderiam ter carregado bolsas com pesadas barras de ouro. Alguns especularam que era o próprio Santo Graal - ou algum outro objeto ritualístico de grande significado -, enquanto outros afirmam que o que eles levavam eram escrituras, ou conhecimentos, e até mesmo que os quatro cá­taros, eles mesmos, é que eram o tesouro, devido à sua própria importância. Eles poderiam representar uma linha de autoridade, talvez até mesmo encar­nando, literalmente, lendária linhagem sangüínea descendente de Jesus.
Mas se o tesouro dos cátaros fosse na verdade algum conhecimento secreto, qual seria seu formato? No que realmente os cátaros acreditavam? É difícil acessar suas crenças com alguma segurança, porque eles deixaram pou­cos registros escritos e muito do que é dito sobre suas crenças vem dos doc­umentos de sua inimiga, a Santa Inquisição. E como Walter Birks e R.A. Gil­bert sabiamente apontam em seu livro The Treasure of Montségur (1987), coloca-se muita ênfase na teologia que lhes é imputada quando, com certeza, seu estilo de vida é o que mereceria mais atenção. Contudo, a religião ori­ginou-se de uma visão específica do mundo, e essas origens permanecem discutíveis.
Os cátaros eram um ramo dos bogomilos, um movimento herético que surgiu e floresceu em primeiro lugar nos Bálcãs, na metade do século X, e que se manteve influente na região, mesmo depois de os cátaros terem sido destruídos. O bogomilismo se difundiu amplamente, até pelo menos onde hoje é Constantinopla, e foi considerado uma séria ameaça à ortodoxia religi­osa.
Os bogomilos da Bulgária são os herdeiros de uma longa linhagem de 'heresias', tendo adquirido uma reputação um tanto pitoresca dentre seus oponentes. Por exemplo, a palavra inglesa 'bugger' (sodomita) deriva do nome búlgaro, denotando o significado pejorativo, tanto literalmente - pois todos os hereges são acusados de desvio sexual, seja a acusação justa ou não -, quanto em um sentido geral.
Os bogomilos e seus diversos ramos, como os cátaros, eram dualistas e gnósticos: para eles, o mundo é inerentemente mal, o espírito preso em um corpo de imundices, e o único modo para se tornar livre era por meio da Gnosis, a revelação pessoal que conduz a alma à perfeição e ao conhecimen­to de Deus. Há uma variedade de possíveis raízes para o Gnosticismo; a filo­sofia grega antiga, os cultos de mistério como o Dionisismo, e religiões dua­listas, como Zoroastrismo, são possíveis candidatos. (Detalhamento mais profundo pode ser obtido no estudo magistral de Yuri Stoyanov, The Hidden Tradition in Europe (1994).
Diante do tipo de literatura sobre o catarismo disponível em muitas lojas turísticas do Languedoc, pode-se perdoar aqueles que pensam que esse era um tipo de religião da Nova Era, com uma teologia clara e simplista. Há dúzias de livros e folhetos que celebram o humanitarismo e as crenças dos cátaros inseridos nos conceitos 'modernos' como reencarnação e vegeta­rianismo. Em geral, porém, isso é uma tolice sentimental. Os cátaros pratica­vam o vegetarianismo não porque amavam os animais, mas sim devido ao ódio que devotavam à procriação, e só comiam peixe porque acreditavam erroneamente que a reprodução destes era assexuada. Por outro lado, a noção que tinham da reencarnação baseava-se no conceito do 'bom final' (morte), que normalmente significava ser martirizado em razão da própria fé. Se se deparassem com tal fim não havia nenhuma dúvida de que não reencarna­riam mais neste desprezível vale de lágrimas; se assim não fosse, então eles voltariam até que fizessem isso direito.
Alguns tentaram argumentar que o catarismo era um produto restrito ao Languedoc: esse argumento é manifestamente impreciso, embora tenha incorporado material típico da região para a construção de sua teologia. Uma coisa que era unicamente dos cátaros era a crença de que Maria Madalena foi mulher de Jesus, ou então sua concubina. Julgava-se, porém, que esse con­hecimento não era apropriado para todos os cátaros, devendo ser restrito aos iniciados de alto grau, o círculo interno, e só. Os cátaros eram visceral­mente contra o sexo e até mesmo contra o matrimônio, e assim tal convicção era algo bastante difícil de reconciliar e, portanto, eles deveriam ficar tão horrorizados em relação a isso que reservaram tal conhecimento para os que já haviam, sobejamente, provado sua fé.
Os cátaros achavam-se, com freqüência, em uma posição teológica de­licada, pois, por um lado, eles encorajavam seus seguidores a lerem a Bíblia (contrastando com o catolicismo ortodoxo que se opunham ao acesso po­pular à Bíblia); por outro lado, porém, tomavam a atitude radical de reinter­pretar os eventos bíblicos a fim de ajustá-los às suas próprias crenças. O prin­cipal exemplo de suas reinvenções do Novo Testamento é a visão que tinham da crucificação: afirmavam que um Jesus de puro espírito é que fora pregado à cruz. Embora não haja nenhuma evidência bíblica sobre isso, eles se viram obrigados a inventar esse 'outro' Jesus em razão da repugnância que tinham do corpo físico e, portanto, ter um crucificado corpóreo era inconcebível para eles.
Assim, a idéia de Jesus e Maria Madalena serem parceiros sexuais não poderia ser resultado de algum tipo de pensamento tendencioso. Na reali­dade, eles se engalfinhavam com várias justificativas teológicas diferentes, na tentativa de explicar o matrimônio, algo em que não empregariam tanto tempo e energia se sentissem que poderiam simplesmente desconsiderar a história todo como sendo um completo absurdo. O que isso parece indi­car é a prevalência no Languedoc dessa época da idéia do relacionamento de Jesus com Madalena. Isso não apenas era parte daquilo que as pessoas comuns acreditavam sem qualquer questionamento, como também era algo central para o mundo cristão daquela região como um todo, a tal ponto que era melhor tratar abertamente do assunto do que tentar ignorá-lo. E como escreve Yuri Stoyanov:

O conhecimento de Maria Madalena como a 'mulher' ou 'concubina' de Cristo parece ser, além de tudo, uma tradição original dos cátaros que não encontra nenhuma contraparte nas doutrinas dos bogomilos.

Embora Madalena fosse, e ainda seja, uma santa curiosamente popu­lar na Provença, onde se supõe que tenha vivido, foi no Languedoc que ela se tornou o centro de convergência para as crenças abertamente heréticas, e, como iremos descobrir, foi também nessa região que essas mesmas crenças deram origem a paixões surpreendentes, rumores bárbaros e obscuros se­gredos.
Como já vimos, a idéia de Jesus e Maria Madalena serem amantes tam­bém pode ser encontrada nos Evangelhos de Nag Hammadi, que foram es­condidos no Egito no século IV. Seria razoável imaginar que as semelhanças com as crenças do Languedoc se originassem daqueles ou de uma fonte em comum? Alguns eruditos, com destaque para Marjorie Malvern, têm especu­lado que o culto do sul da França a Madalena preservou essas antigas idéias gnósticas.  E há alguma evidência de que seja realmente esse o caso.
Nos anos de 1330 um tratado extraordinário intitulado Schwester Katrei (Irmã Catarina) foi publicado em Estrasburgo, supostamente escrito pelo místico alemão Meister Eckhart. Os eruditos, porém, concordam que o autor verdadeiro era uma das suas seguidoras. Esse livro apresenta uma série de diálogos entre a 'Irmã Catarina' e seu confessor sobre a experiência reli­giosa de uma mulher e, embora incorpore muitas idéias ortodoxas, também mostra várias outras que são, decididamente, bem menos. Por exemplo, há essa declaração: 'Deus é a Mãe Universal...' e de modo claro revela uma forte inspiração dos cátaros, além daquela advinda das tradições dos trova­dores (minnesinger).
Esse tratado franco e incomum une Madalena a Minne, a Senhora do Amor dos minnesingers, e, ainda mais estimulante, deu o que pensar aos eruditos porque contém idéias sobre Maria Madalena que só são encontra­das nos Evangelhos de Nag Hammadi: ela é descrita como sendo superior a Pedro, devido à maior compreensão que tem de Jesus, e há aqui a mesma tensão entre Maria e Pedro. Além disso, incidentes realmente descritos nos textos de Nag Hammadi são mencionados no tratado da Irmã Catarina.
A professora Barbara Newman, da Universidade da Pensilvânia, destaca o dilema acadêmico da seguinte forma: "a utilização desses temas na 'Irmã Catarina' coloca uma questão espinhosa no que tange à transmissão históri­ca" e confessa que isso é 'um fenômeno real, mesmo sendo desconcertante'. Como poderia o autor de Irmã Catarina, em pleno século XIV, ter tido acesso a textos que só seriam descobertos no século XX? Não pode ser mera coincidência o tratado mostrar a influência dos cátaros e trovadores do Languedoc, e a conclusão óbvia é que foi através deles que o conheci­mento dos Evangelhos Gnósticos relativos a Maria Madalena foi transmiti­do; seus segredos não só podem estender-se sobre o que conhecemos como os textos de Nag Hammadi, como também sobre documentos semelhantes e de igual valor que, contudo, ainda não foram redescobertos.
É interessante que haja uma crença duradoura no sul da França sobre a natureza sexual da relação entre Madalena e Jesus. A pesquisa inédita de John Saul revelou muitas referências na literatura do sul da França, do século VII, sobre tal união, especificamente nas obras de homens que estavam associados ao Monastério de Sion, como César, o filho de Nostradamus (cuja obra foi editada em Toulouse).

Tínhamos visto na Provença que onde quer que houvesse centros de culto a Maria Madalena havia, normalmente, locais associados a João Batis­ta. Como os cátaros pareciam tê-la em alta conta, então talvez eles também demonstrassem a mesma reverência para com o Batista. Muito pelo con­trário, porém, os cátaros pareciam sentir total repugnância para com o Batis­ta, a ponto do descrevê-lo como sendo um 'demônio'. Essa repugnância vem diretamente dos bogomilos, alguns destes se referindo a ele (de um modo um tanto confuso) como 'o precursor do anticristo'.
Um dos poucos textos santos remanescentes dos cátaros é o Livro de João, também conhecido como Liber Secretum, que é uma versão gnóstica do Evangelho de um João completamente diferente: grande parte é exata­mente igual ao Evangelho canônico, porém, contém algumas 'revelações' extras pretensamente dadas pessoalmente a João, o 'Discípulo Amado'. Fo­ram essas idéias de caráter dualista e gnóstico que concorreram para a for­mação da teologia geral dos cátaros.
Nesse livro, Jesus diz a seus discípulos que João Batista, na verdade, era o emissário de Satanás (o Deus do mundo material), enviado com o intuito de antecipar-se à sua missão redentora. Esse texto era originalmente dos bogomilos e não foi totalmente aceito, nem pelos cátaros, nem por todos os bogomilos. Muitos membros de outras facções dos cátaros se en­tretinham com idéias bastante mais ortodoxas sobre João, e existem sinais de que, na verdade, os bogomilos dos Bálcãs realizavam um ritual come­morativo todo 24 de junho.
O certo é que os cátaros tinham uma consideração especial para com o Evangelho de João, que no geral é tido pelos eruditos como sendo o mais gnóstico dos textos do Novo Testamento. (Em círculos ocultos vicejam ru­mores de que os cátaros tinham uma outra versão, hoje perdida, do Evange­lho de João. Muitos ocultistas vasculharam a região ao redor de Montségur na esperança de encontrá-lo, sem sucesso porém).
Está claro que os cátaros tinham idéias pouco ortodoxas, mesmo que um tanto confusas, sobre João Batista. Mas havia alguma coisa de verdadei­ro em seu conceito de um João mau e um Jesus bom? Talvez não muito, mas, como sugerem vários comentadores contemporâneos, a relação entre esses dois homens pode não ter sido tão claramente definida quanto a maioria dos cristãos é levada a acreditar. Essa idéia dos cátaros pode representar o caráter dualista de sua filosofia, do modo mais simplista possível: um dos dois é o bem e o outro é o mal. Nesse caso, entretanto, a conclusão lógica é que eles os consideraram iguais porém opostos. Os cátaros, portanto, devi­am vê-los como rivais, o que não é de forma alguma uma visão cristã tradi­cional. E isso demonstra que dúvidas desconcertantes sobre o suposto apoio de João à missão de Jesus já existiam há muito tempo naquela região. Assim como a relação de Madalena com Jesus, a de João e Jesus parece compreender uma versão radicalmente diferente daquela ensinada pela Igreja.
Buscar nos cátaros uma confirmação da importância da figura de João para os movimentos heréticos é trilha certa para a decepção, ao menos su­perficialmente. Mas há uma organização historicamente bastante significati­va que mais do que contrabalança esse desapontamento. Estamos falando, é claro, dos cavaleiros templários, para quem João Batista sempre foi, inexpli­cavelmente, objeto de grande devoção. E do mesmo modo que a cruzada contra os cátaros deixou uma marca traumática indelével na paisagem do Languedoc, assim também os castelos desses cavaleiros enigmáticos ainda apontam entre brancas névoas nos recônditos mais remotos daquela zona rural.
Os templários hoje tornaram-se uma espécie de clichê esotérico, como bem sabe qualquer um que esteja familiarizado com a ficção de Umberto Eco, e a maioria dos historiadores não sente nem um pingo de remorso seq­uer ao tratar com absoluto desdém qualquer coisa que chame atenção para seus 'segredos'. No entanto, qualquer mistério que esteja conectado com o Monastério de Sion também envolve esses monges-guerreiros, e, portanto, são uma parte inerente desta investigação.
Um terço de todas as propriedades dos templários na Europa se en­contrava no Languedoc. Suas ruínas contribuem para tornar ainda mais bela essa região selvagem. Uma das lendas locais mais pitorescas é a de que todo 13 de outubro que caía em uma sexta-feira (o dia do mês e da semana em que a Ordem foi suprimida de forma súbita e brutal) faz com que apareçam luzes estranhas nas ruínas, além de negras figuras que podem ser vistas se moven­do dentro delas. Infelizmente, nas sextas-feiras que passamos naquela região, não vimos nem ouvimos nada além do que o alarmante grunhido de javalis selvagens. Ao menos essa história demonstra o quanto os templários se tor­naram parte da lenda local.
Os templários mantiveram-se vivos na memória dos habitantes locais, através de recordações que não são de forma alguma negativas. Mesmo em nosso século, ainda encontramos vestígios que atestam isso, como nos conta a famosa cantora de ópera Emma Calvé, nascida na região de Aveyron, no norte do Languedoc. Emma registrou em suas memórias que o povo local, quando queria dizer que um menino era especialmente bonito ou inteligente, usava o seguinte dito popular: 'Ele é um verdadeiro filho dos templários'.
Os principais fatos relativos aos cavaleiros templários são bastante simples. Oficialmente denominados como A Ordem dos Cavaleiros Pobres do Templo de Salomão, a ordem foi formada em 1118 pelo nobre francês Hugues de Payens, para servirem de escolta dos peregrinos que se dirigiam para a Terra Santa. Nos primeiros nove anos eram apenas nove cavaleiros. Então a Ordem foi reconhecida oficialmente e logo se estabeleceu como uma força a ser levada em consideração, não só no Oriente Médio como também em toda a Europa.
Depois do reconhecimento da Ordem, o próprio Hugues de Payens empreendeu uma viagem através da Europa, solicitando, à realeza e à nobre­za, terras e dinheiro. Em 1129 visitou a Inglaterra, onde fundou a primeira sede dos templários naquele país, no lugar onde hoje está a estação Holborn do metrô londrino.
Como todos os outros monges, os cavaleiros fizeram voto de pobreza, castidade e obediência. Mas eles eram homens do mundo e assim empunha­vam sua espada sempre que fosse necessário lutar contra os inimigos de Cris­to. A imagem dos templários vinculou-se, de forma inseparável, à das cruza­das, que foram organizadas para expulsar o infiel de Jerusalém, mantendo-a cristã.
O Conselho de Troyes reconheceu oficialmente os templários como uma ordem religiosa e militar, em 1128. A figura principal por trás dessas operações era Bernard de Clairvaux, o cabeça da Ordem de Cister, que tem­pos depois seria canonizado. Mas como escreve Bamber Gascoigne:

Ele era agressivo e abusivo... e era um político trapaceiro e sem qualquer escrúpulo nos métodos que utilizava a fim de derrubar seus inimigos.

Foi Bernard quem escreveu a Regra dos Templários, baseada na dos cistercienses, e foi um de seus protegidos, na posição de Papa Inocêncio II, quem declarou, em 1139, que os templários, dali em diante, só responderiam diretamente ao papado. Como os templários e a Ordem de Cister desenvolvi­am-se em paralelo, podemos inferir que havia uma certa e deliberada coorde­nação entre eles. Por exemplo, o Conde de Champagne, senhor de Hugues de Payens, doou a Bernard as terras de Clairvaux, onde então construiu seu 'im­pério' monástico. E é bastante significativo que André de Montbard, um daque­les nove Cavaleiros que fundaram a ordem, fosse tio de Bernard. Chegou-se a sugerir que os templários e cistercienses agiam em comum acordo por meio de um plano pré-organizado, a fim de assumir o domínio sobre a cristandade, mas o esquema não vingou.
Dificilmente exageraríamos ao falarmos do prestígio e do poder finan­ceiro dos templários no período em que sua influência na Europa estava no auge. Praticamente não havia nenhuma área civilizada importante onde eles não tivessem uma preceptoria, como atestam, por exemplo, vários locais espalhados pela Inglaterra, como o Templo da Fortuna, o Templo da Barra (Londres) e o Templo das Pradarias (Bristol). Porém, à medida que seu im­pério se espalhava, crescia também sua arrogância, o que fez com que suas relações com as autoridades principais começassem a se envenenar.
A riqueza dos templários em parte resultava de sua Regra: todos os novos membros deviam entregar todas as propriedades à Ordem, além de amealharem uma fortuna considerável por meio de volumosas doações de terra e dinheiro de muitos reis e nobres. Seus cofres logo ficaram abarrota­dos também devido ao fato deles terem desenvolvido uma impressionante astúcia financeira, o que fez com que se tornassem os primeiros banqueiros internacionais, cujas avaliações de crédito serviam de parâmetro para todos os outros financistas. Com certeza esse era um meio seguro para se estabe­lecerem como um dos principais centros de poder. Em um período bastante curto o título de 'Cavaleiros Pobres' tornou-se uma piada, embora seus solda­dos permanecessem bem pobres.
Além de sua incrível riqueza, os templários também eram conhecidos por sua habilidade e coragem no campo de batalha, chegando às vezes a serem até temerários. Tinham regras específicas que determinavam sua con­duta como combatentes: era-lhes, por exemplo, proibido render-se, a menos que o inimigo estivesse em vantagem numérica de pelo menos três para um, e mesmo assim deviam antes obter a permissão de seu superior. Eles eram os Serviços Especiais daquela época, uma tropa de elite com Deus (e o dinheiro) a seu lado.
Apesar de todos os esforços, a Terra Santa foi dominada pelos sarra­cenos, pedaço por pedaço, até que, em 1291, o último território ainda em poder do mundo cristão, a cidade de Acre, fosse tomada por mãos inimigas. Não havia mais nada que os templários pudessem fazer a não ser voltar à Europa e planejar a eventual reconquista de Jerusalém. Infelizmente, porém, até mesmo a motivação para uma campanha como essa havia desaparecido da mente dos vários reis que poderiam financiá-la. A principal razão de sua existência havia se reduzido a um grande nada. Desempregados, mas ainda ricos e arrogantes, tinham contra si um ressentimento generalizado, pois es­tavam isentos de tributação e deviam submissão apenas ao Papa.
Assim, em 1307, eles, inevitavelmente, caíram em desgraça. O todo-po­deroso Rei francês, Filipe, o Belo, começou a orquestrar a queda dos tem­plários, com a devida conivência do Papa, que de qualquer forma era alguém que Filipe tinha no bolso. Foram emitidas ordens secretas aos representantes aristocráticos do rei, e os templários foram reunidos numa sexta-feira, no dia 13 de outubro de 1307, sendo então presos, torturados e queimados.
Pelo menos, é essa a história que se conta na maioria das obras relati­vas a esse assunto. Essas obras nos levam a entender que a Ordem, toda ela, conheceu sua horrível destruição final naquele exato dia, e que os templários foram efetivamente varridos da face da terra, para sempre. Contudo, a verdade não é absolutamente essa.
Para começar, apenas alguns poucos templários foram de fato executa­dos, embora a maioria dos que foram capturados fossem 'submetidos a interro­gatório' , um bem conhecido eufemismo para designar uma tortura excruciante. Relativamente poucos enfrentaram a fogueira, embora o Grão Mestre Jacques de Molay tenha sido 'assado' lentamente até a morte na Île de la Cité, à sombra da Catedral de Notre-Dame, em Paris. Dos outros milhares de templários, ape­nas aqueles que se recusaram a confessar, ou renegaram suas confissões, foram executados. Mas que validade poderiam ter essas confissões obtidas através de ferros em brasa e do aperto de parafusos das máquinas de tortura? E o que exatamente era esperado que eles confessassem?
O relato das confissões dos templários são bastante pitorescas, para dizer o mínimo. Lemos que eles adoravam um gato, ou se compraziam em orgias homossexuais como parte de seus deveres cavalheirescos, ou venera­vam um demônio conhecido como Baphomet e/ou uma cabeça decapitada. Também foi dito que eles haviam pisoteado e batido na cruz em um rito de iniciação.Tudo isso, é claro, era para fazer parecer um total absurdo a idéia de que eles eram Cavaleiros dedicados a Cristo, verdadeiros sustentáculos do ideal cristão. Quanto mais eles eram torturados, mais aparente ficava essa divergência.
Isso não causa surpresa: não são muitas as vítimas de tortura que con­seguem retesar os próprios dentes e recusar-se a concordar com as palavras que são colocadas em suas bocas por seus algozes. Nesse caso, contudo, exis­tem muito mais coisas do que parece haver à primeira vista. Por um lado, houve insinuações de que todas as acusações levantadas contra os templá­rios eram fraudulentas, manipuladas por aqueles que invejavam sua riqueza e exasperavam-se com o poder que tinham. Estes, então, tramaram uma boa desculpa para que o rei francês pudesse se livrar das dificuldades econô­micas vigentes apropriando-se da enorme riqueza dos templários. Por outro lado, embora as acusações pudessem não ser estritamente verdadeiras, exis­tem evidências de que os templários estavam metidos com algo misterioso, talvez algo 'negro' no sentido oculto do termo. Claro está que essas duas visões não são, necessariamente, mutuamente exclusivas.
Muita tinta já foi gasta com argumentações sobre as acusações feitas contra os templários, e as conseqüentes confissões. Teriam eles realmente cometido todos os atos que confessaram, ou os inquisidores inventaram previamente as acusações e, então, simplesmente torturaram os cavaleiros até que eles concordassem em confessá-las? (Alguns cavaleiros, por exemplo, testemunharam afirmando que haviam dito que Jesus era um 'falso profe­ta'.) É impossível adotar conclusivamente qualquer uma das hipóteses.
Há, entretanto, ao menos uma confissão em particular que nos faz parar e refletir. É a confissão de um certo Fulk de Troyes, que disse que os templári­os lhe mostraram um crucifixo e lhe disseram: 'Não coloque tanta fé nisso, pois é algo muito recente'. Parece haver pouca probabilidade dessa de­claração enigmática ter sido formulada por um inquisidor, dada a pouca edu­cação histórica vigente na época.

É certo que o Monastério de Sion afirma ser o poder criador que estava por trás do surgimento dos cavaleiros templários: se esse é o caso, então esse é um dos segredos mais bem guardados da história. Mesmo assim, dizem que as duas ordens eram virtualmente a mesma, até o momento do cisma em 1188, depois do qual seguiram caminhos separados. E na verdade parece ter havido algum tipo de conspiração relacionada com o surgimento dos tem­plários. O bom senso sugere que deve ter sido necessário mais do que os nove cavaleiros originais para proteger e prover refúgio a todos os peregrinos que iam visitar a Terra Santa, e ainda por cima durante nove anos; além disso, há muito pouca evidência de que eles tenham feito qualquer tentativa séria de realizar tal escolta. Os templários logo se transformaram nos queridinhos da Europa, tendo recebido privilégios e honras totalmente desproporcionais em relação ao que realmente mereciam. Por exemplo, foi-lhes concedido uma ala inteira do palácio real, em Jerusalém, um lugar que antes fora uma mesquita. Por sua vez, foi dito, erroneamente, que tal palácio havia sido construído sobre as fundações do Templo de Salomão, de onde os templários tiraram seu nome oficial.
Outro mistério relacionado aos inícios dos templários centra-se no fato de haver evidências de que a Ordem de fato já existia bem antes de 1118, embora o motivo de a data ter sido falsificada permaneça obscuro. Muitos comentadores sugeriram que o primeiro relato conhecido sobre a criação dos templários, de William de Tiro, que o escreveu há cerca de cinqüenta anos após o evento, era simplesmente uma história para despistar. (Embora William fosse profundamente hostil ao templários, presume-se que ele esta­va recontando a história conforme seu entendimento.) Uma vez mais, porém, podemos apenas especular sobre qual era o motivo para tal tentativa de de­spistamento.
Hugues de Payens e seus nove companheiros vieram todos ou de Cham­pagne ou, inclusive, do Languedoc, Condado da Provença, e é certo que eles foram à Terra Santa com uma missão específica em mente. Talvez, como já se sugeriu, estivessem à procura da Arca da Aliança ou de algum outro tesouro antigo ou mesmo de documentos que pudessem conduzi-los a isso ou a algum tipo de conhecimento secreto que lhes desse domínio sobre as pessoas e suas riquezas. Recentemente, Christopher Knight e Robert Lomas argumentaram em seu livro The Hiram Key, que os templários buscaram e encontraram o esconderijo de documentos que tinham a mesma origem dos Manuscritos do Mar Morto. No entanto, tão intrigante quanto possa ser tal sugestão, ela não fornece qualquer evidência convincente e, como veremos, a questão relacionada às origens dos Manuscritos do Mar Morto está repleta de concepções erradas e míticas. Existem, porém, evidências reais de que os templários buscavam obter novos conhecimentos dos árabes e dos outros povos que encontravam em suas viagens.
Para nós uma das coisas mais fascinantes sobre os templários é a forte e incomum reverência a João Batista, que parece ser para eles muito mais importante do que teria sido um mero santo protetor. O Monastério de Sion, que uma vez fora, como afirmam, inseparável dos templários, chama todos os seus Grão-Mestres de 'João', quem sabe em reverência ao Batista. No entanto, é totalmente impossível descobrir a razão de tal submissão, por parte dos templários, em quaisquer das obras a eles dedicadas; a explicação habitual é a de que João lhes era especial por ter sido professor de Jesus. Alguns suge­riram que a cabeça decapitada que alguns afirmam ter sido fonte de vene­ração dos templários era a do próprio Batista. Porém, tal adoração a um totem como esse implica em ver os templários como sendo algo muito dife­rente do que simples cavaleiros cristãos.
Até mesmo muito de seu simbolismo, aparentemente ortodoxo, esconde específicas insinuações a 'João'. Por exemplo, o Cordeiro de Deus era uma de suas imagens mais importantes. A maioria dos cristãos o tomam como sendo Jesus - o Batista tendo dito aparentemente referindo-se a ele: 'Eis o Cordeiro de Deus' - mas em muitos lugares, como as partes ocidentais da Grã-Bretan­ha, esse símbolo é utilizado como referência ao próprio João, e para os tem­plários também parece ser esse o significado. O símbolo Cordeiro de Deus foi adotado pelos templários em seu selo oficial; esse selo era específico da Ordem no sul de França.
Uma pista de que a reverência dos templários para com João Batista não era uma simples questão de prestar homenagem ao seu santo protetor, mas que na verdade ocultava algo muito mais radical, pode ser encontrada na obra de um padre erudito chamado Lambert de St Omer. Lambert estava asso­ciado a Godefroi de St Omer, um dos nove cavaleiros fundadores e o segundo em comando das forças de Hugues de Payens. Em The Hiram Key, Christo­pher Knight e Robert Lomas reproduzem uma ilustração de Lambert retratan­do 'a celestial Jerusalém' , e observam que ela:

...aparentemente mostra o fundador [da celestial Jerusalém] como sendo João Batista. Não há nenhuma menção a Jesus nesse, assim chamado, documento cristão.

Como no simbolismo das pinturas de Leonardo, a conclusão é que João, o Batista, é importante por si mesmo, e não meramente em decorrência de seu papel como precursor de Jesus.
Dois anos depois das prisões em massa, enquanto os cavaleiros ainda estavam sendo julgados, o catalão visionário e ocultista Ramon Lull (1232-c.1316), anteriormente um leal partidário da Ordem, escreveu que os julga­mentos revelavam as 'ameaças à barca de São Pedro', e acrescentou:

Existem, talvez, muitos segredos no cristianismo, dentre os quais há um (em particular) capaz de causar uma incrível revelação, assim como aquele (que está) emergindo através dos templários... tal pública e manifesta infâmia pode por si mesma colocar em perigo a barca de São Pedro.

Lull parece não só estar se referindo aos perigos para a Igreja causados pelas revelações sobre os templários, como também a outros segredos, de igual magnitude. Ele também parece aceitar as acusações levantadas contra a Ordem, embora, àquela altura dos fatos, não fosse uma idéia muito inteligente colocá-las em questão.
Poderia o Languedoc, que foi o local de maior concentração de tem­plários na Europa, fornecer alguma pista que nos levasse à verdade sobre a Ordem? Ainda hoje, após tanto tempo, essa região conta com muitas re­cordações persistentes, e continua a ser saudavelmente desatenta em relação ao convencional.
Como vimos, os cátaros e os templários floresceram aqui e ao mesmo tempo, mas posto o que geralmente é entendido como seus valores relativos, parece que esses dois grupos altamente influentes deveriam estar em lados opostos. Realmente, a cruz vermelha sobre um fundo branco, símbolo dos templários, é com freqüência vista como um símbolo tipicamente pertencente às cruzadas. Porém, existem muitas indicações de que os templários eram, senão ativamente apoiados, vistos com certa simpatia pelos 'hereges' das montanhas, e é incontestável que os templários se notabilizaram por sua ausên­cia na cruzada dos albigenses. Os cavaleiros admitiam abertamente que seu interesse primário na ocasião estava na longínqua Terra Santa, além de mui­tos deles terem saído das mesmas famílias que os cátaros, mas nenhuma dessas razões pode explicar totalmente a falta de interesse dos templários em sair ao encalço dos cátaros.
Quais eram, porém, os verdadeiros interesses e motivações dos tem­plários? Eles eram apenas os monges-guerreiros que afirmavam ser, ou havia algo de secreto em seus planos, uma outra dimensão oculta?