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9.11.2017

APÊNDICE

Maçônicos Ocultistas da Europa Continental

Rastrear a difusão da maçonaria desde as Ilhas Britânicas até a Europa Continental, e seu desenvolvimento na Europa, é um processo complicado, que é dificultado tanto pelo desejo da "corrente principal" da maçonaria contemporânea de dissociar-se de suas origens esotéricas como pela má vontade dos historiadores de levar o assunto a sério.
A primeira loja maçônica oficialmente reconhecida na França estabe­leceu-se na década de 1720, sob o controle da Grande Loja da Inglaterra. Entretanto, nessa época já havia lojas na França, cujas origens remontavam aos partidários (predominantemente) escoceses de Charles I, que fugiu para a França por volta de 1650. A história da maçonaria na França, portanto, seguiu duas correntes distintas: a que descendia das lojas inglesas (que for­maram sua própria Grande Loja em Paris, em 1735) e a que descendia das lojas escocesas, com períodos de mútua hostilidade alternados com tenta­tivas de reconciliação. A fundação da Grande Loja da França, em 1735, repre­sentou uma ruptura com a Grande Loja inglesa; a razão do atrito foram pre­cisamente as objeções de Londres a que "suas" lojas tivessem boas relações com as lojas escocesas.
A maçonaria escocesa parece ter estado mais próxima do caráter ori­ginal da maçonaria como uma sociedade secreta ocultista, embora na Inglater­ra ela tenha se transformado em uma associação de ajuda mútua e para o pro­gresso, ou, na melhor das hipóteses, em uma sociedade filosófica. Com certeza, a maçonaria escocesa sempre teve um caráter marcadamente ocultista.
A criação da Estrita Observância Templária, pelo barão von Hund, no final dos anos 1740, representou um novo desenvolvimento dentro da maço­naria escocesa. Von Hund afirmava que sua autoridade derivava dos partidá­rios do Stuart exilado em Paris, um círculo centrado em Charles Edward Stu­art (1720-1788), o "Jovem Pretendente" . Se é verdade, e uma pesquisa recente tende a apoiar tais afirmações, seu sistema teria derivado dos mesmos círcu­los do já existente sistema escocês.

Embora von Hund tenha sido iniciado em Paris e começado a promover seu novo sistema na França, a Estrita Observância Templária teve seu maior sucesso inicial na terra natal do barão, a Alemanha, onde era originalmente conhecida como Irmandade de São João Batista. (O título "Estrita Observância Templária" só foi adotado em 1764; o sistema anterior era chamado simples­mente de "Maçonaria Purificada".) Von Hund criou a primeira loja na Alema­nha, "A Loja dos Três Pilares", em Kittlitz, em 24 de junho (dia de João Batista) de 1751. As lojas alemãs tinham estreitas ligações com as sociedades rosa-cruzes, particularmente com a Ordem da Dourada e Rosa Cruz (ver Capítulo Seis).
Na França, uma entidade rival da Grande Loja, a Grande Oriente, foi cria­da em 1773. O ponto principal do desacordo entre os dois sistemas era o envolvimento das mulheres na maçonaria - a Grande Oriente incluía lojas con­stituídas só por mulheres. Entretanto, a Grande Oriente mergulhou em grande desordem por causa do que se considerou como uma tentativa da Estrita Ob­servância Templária de assumir o controle. A resistência devia-se, em parte, ao nacionalismo, pois se tratava de um sistema alemão, estrangeiro. Em conse­qüência, um novo sistema "escocês", o Antigo e Aceito Ritual Escocês (que mais tarde tornar-se-ia muito popular nos EUA), foi criado, em 1804. (para confundir as coisas ainda mais, há hoje uma Grande Loja Nacional da França, separada da Grande Loja da França, que, embora represente uma minoria de lojas, é aliada da Grande Loja inglesa.)
Martines de Pasqually (1727-1779) fundou outra forma de maçonaria oculta, a Ordem dos Eleitos Cohen, em 1761. Muito pouco se sabe sobre o passado de Pasqually, embora ele fosse provavelmente espanhol Alguns pesquisa­dores acreditam que Pasqually tinha ligações com a Ordem Dominicana - a antiga Inquisição - e que tinha acesso ao material mágico e herético existente nos arquivos da Ordem. Ele obteve para a Grande Loja da França uma licença concedida a seu pai por Charles Edward Stuart, o que o liga à maçonaria escoc­esa, que estava por trás de von Hund.
O secretário de Pasqually era Louis Claude de Saint-Martin, um influente e importante filósofo do ocultismo, que ficou conhecido como o "Filósofo Desconhecido". Saint-Martin formou um novo sistema da maçonaria escocesa, o Ritual Escocês Reformado, e este uniu-se com o ramo francês da Estrita Ob­servância Templária em 1778, na Convenção de Lyon, uma reunião dos maçons do ritual escocês que também incluiu representantes da maçonaria suíça. A principal força motriz por trás do encontro de Lyon foi Jean-Baptiste Willer­moz (1730-1824), que também era membro dos Eleitos Cohen. No encontro, a Estrita Observância Templária de von Hund e o Ritual Escocês Reformado de
Saint-Martin uniram-se sob o nome de Ritual Escocês Purificado. (A filosofia de Saint-Martin - o martinismo - foi de grande influência no ressurgimento do ocultismo na França no final do século XIX, especialmente nos grupos dos "rosa-cruzes" discutidos no Capítulo Sete.As ligações entre as ordens martinis­tas e o Ritual Escocês Purificado permanecem estreitas até hoje.)
A Estrita Observância Templária foi abolida na Convenção de Wt1helmsbad, em 1782, embora o sistema do Ritual Escocês Purificado (que era essencial­mente a Estrita Observância sob outro nome, com a adição de certas crenças martinistas) fosse reconhecido como legítimo.
A Estrita Observância Templária também sobreviveu através de sua in­fluência sobre outra forma de maçonaria "oculta", os Rituais Egípcios, que fo­ram criados pelo conde Cagliostro (ver Capítulo Sete).Após sua iniciação em uma loja da Estrita Observância (Esperance 369) em Londres, em 1777, Cagliostro desenvolveu seu próprio sistema, que incorporava a alquimia e out­ras idéias que ele aprendera dos grupos ocultistas alemães. Ele criou a "loja mãe" do Ritual Egípcio em Lyon, em 1782. O traço distintivo de seu sistema, afora o uso do antigo simbolismo egípcio, era a igualdade concedida às mu­lheres.
A data da fundação desse sistema também é significativa. Os céticos atribuem a fundação da maçonaria do Ritual Egípcio à moda européia pelas coisas do Egito que se seguiu à campanha de Napoleão nesse país (durante a qual a famosa Pedra da Roseta foi descoberta). Entretanto, isso se deu nos anos de 1798-99, após a instituição do sistema maçônico.
O Ritual de Misraim foi criado em Veneza em 1788, sob licença dada por Cagliostro. Foi levado para a França em 1810 por três irmãos da Provença ­Michael, Joseph e Marcus Bedarride.
Eles estabeleceram uma Grande Seção em Paris e negociaram a união com a Grande Oriente. Também estabeleceram ligações com o Ritual Escocês Purificado, um reconhecimento à origem comum dos dois sistemas na Estrita Observância Templária. Os quatro grandes graus do Ritual de Misra'im eram chamados de Arcana Arcanorum.
Outro importante ritual egípcio era o de Mênfis, criado em Montauban, em 1838, por Jacques-Étienne Marconis de Negre (1795-1865), um antigo mem­bro do Ritual de Misra’im. Esse sistema também tinha estreitos laços com o Ritual Escocês Purificado.
Em 1899,os rituais de Mênfis e Misra’im foram unidos por Gérard Encausse (Papus), que anteriormente fundara e liderara a Ordem Martinista (ver Capítu­lo Sete).
Assim, o Ritual Escocês Purificado, os rituais egípcios e as ordens martinistas formam um grupo interligado de sociedades, todas com origem na Estrita Observância Templária do barão von Hund - que por sua vez deriva dos cavaleiros templários da Escócia - e nas lojas rosa-cruzes da Alemanha.